Thursday, April 19, 2007

Virginia Tech, 2 artigos e a indigência intelectual (da esquerda) brasileira

A tragédia americana ou "Alô, Ali Kamel! Who let the dogs out?"
Reinaldo Azevedo (http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/)

Alô, Ali Kamel, chame a corrocinha. Who let the dogs out? Who let the dogs out?

Kamel é diretor executivo de jornalismo da TV Globo e um dos jornalistas mais competentes do país, o que deixa os cães morrendo de raiva. Deve ter uns 44, 45 anos, a minha idade, jovem para o cargo que ocupa, o que desperta também inveja e despeito, elementos importantes no jornalismo, acreditem. Pausa. Ontem, participei de um Roda Viva com o ministro da Saúde, José Gomes Temporão. Comento depois. Alguns colegas quiseram saber se não é um pouco chato e solitário fazer um blog, se não sinto falta da redação... Até eu gosto de gente às vezes. Sinto falta, claro. Mas também há suas compensações. Por exemplo: não tenho de passar vergonha. Kamel certamente ficará envergonhado quando vir o que fizeram no Jornal Hoje. Explico-me.

O jornal fez uma reportagem sobre o massacre na Universidade da Virgínia. O correspondente Luís Fernando Silva Pinto informou: “[O assassino] é Cho Seung-Hui, um aluno de inglês de 23 anos da Coréia do Sul que tinha “green card”, o documento de residência permanente nos EUA. Ele chegou ao país aos oito anos de idade. A polícia encontrou digitais dele nos dois locais do crime, mas ainda apura quais os motivos que o levaram a matar colegas e professores.” Aí voltamos para o estúdio.

Uma das manias do jornalismo é ouvir “especialistas”. A tentativa, bem-intencionada, é tirar o fato da esfera da banalidade e do simples impressionismo, buscando eventuais motivações de alcance teórico, que expliquem o fato numa dimensão mais profunda. O Jornal Hoje chamou uma certa Sandra Dias para comentar o caso (veja vídeo aqui). Leia a íntegra da conversa entre a professora e o jornalista e apresentador Evaristo Filho:

JH - O que motiva um gesto tão brutal como esse? O Jornal Hoje convidou a doutora em psicologia e professora da PUC-SP Sandra Dias, que coordenou várias pesquisas sobre violência nas escolas. Quando pensamos que a escola é um lugar seguro, vemos uma cena dessas. O que acontece? Os pais, que tem filhos na escola, ficam ainda mais preocupados. O que aconteceu?
Sandra Dias: Nos EUA, vamos fazer uma diferença entre os EUA e o Brasil. Os EUA são uma cultura em que a lógica capitalista impõe um imperativo do consumo. O que quer dizer isso? O consumo se impõe para um sujeito. Você é cidadão na medida em que você consome. A sua cidadania é medida pelo seu grau de consumo. E todo mundo tem que ser o primeiro. Atividades sociais simples na escola americana se constituem de uma forma a ser um objeto de consumo. Vou dar um exemplo: o jovem popular. O que é o jovem popular nos EUA? Ou é o jogador que ganha todos os jogos, ou é o jovem que tem uma agenda com o maior número de telefones dos quais ele pode convidar o maior número de pessoas para as festas.

JH: Mas não é popular sair atirando.
Sandra Dias: Pois é. Mas em uma cultura onde o consumo é impositivo, a coletividade vai se colocar como uma massa de consumidores. E como um sujeito vai se marcar diferentemente? Como ele vai marcar o lugar dele, o lugar de um sujeito? Ou seja, o lugar que não é dos consumidores? Sempre por um ato heróico. Nós podemos entender que um jovem que sai atirando na coletividade está fazendo um ato heróico, mesmo que negativo.

JH - Os produtores do Jornal Hoje conversaram com o estudante brasileiro Francisco Müller, que estava na universidade americana na hora do massacre:
Francisco Müller - “A cidade deve estar muito triste hoje, vai ter uma homenagem na universidade às duas horas, eu devo estar lá, aí eu vou saber mais como está o clima lá. Mas o clima que a gente via pela TV e nas entrevistas é todo mundo muito triste, mas querendo superar, e ninguém falando em desistir, em sair daqui. Eu acho que uma coisa assim nunca aconteceu aqui, nem próximo disso, quer dizer, isso nunca aconteceu em lugar nenhum uma coisa tão grande, mas a cidade é bem pequena e tranqüila. Então acredito que eu ainda me sinta seguro aqui, apesar do que aconteceu. Foi horrível!”

JH – Bom, seguro, provavelmente, ninguém se sente depois que vê um massacre desse. A facilidade de acesso às armas também facilita esse tipo de coisa?
Sandra Dias: Facilita, porque a sociedade americana, ela, ao liberar a arma, você vai ter um objeto de consumo e se você oferta objeto você tem que consumir objeto. Então isso já é um ponto. O outro ponto é que, se você tem um objeto, você vai usá-lo. Então o adolescente, o jovem, vai ver o pai atirando, o vizinho atirando, o colega falando de armas. Então isso facilita sim.

JH: Passa a ser uma questão cultural também?
Sandra Dias: Passa a ser uma questão cultural.



Voltei
I-na-cre-di-tá-vel!!!

Segundo aquela senhora, há dois responsáveis pelo massacre: o capitalismo e as vítimas. Sim, vocês viram: a sociedade americana é culpada pelos assassinatos. Como foi a culpada também pelos atentados terroristas do11 de Setembro.

Nos Estados Unidos, como vocês sabem, é muito mais fácil comprar uma arma do que nos Brasil. A professora Sandra é contra essa facilidade. No ano do tal referendo, lembram-se?, 37 armas legais foram vendidas em nosso país. Daí decorre a paz social em que vivemos, a servir de exemplo para o mundo. É isto: por que os EUA não adotam a nossa legislação, seguindo um modelo que deu certo, não é mesmo?

Se o seu filho for aluno da professora Sandra Dias, ela vai dizer essas coisas pra ele, com a autoridade de quem ensina, armada com o seu título de “doutora”. Quem praticou o massacre na universidade? A sociedade de consumo. O que fazer para que coisas assim não se repitam? Ora, eliminar a sociedade de consumo. Aonde ela não chegou — Sudão, por exemplo —, esse tipo de coisa não acontece. Não se matam três dezenas de pessoas dentro de uma universidade. Matam-se logo 200 mil no genocídio de Darfur. Mas não foi a sociedade de consumo, certo? Pensemos no mais de milhão de mortos nos conflitos entre tutsis e hutus. Foi o capitalismo? Não. Ao menos isso. São mortes muito mais limpas. Como foram muito mais morais os 70 milhões de assassinatos de Mao Tse-Tung ou os 35 milhões de Stálin.

Tudo bem, entendo. Onde há uma desocupada para falar o que lhe dá na telha na hora do almoço? Bem, melhor não levar ninguém. Nem mesmo ocorreu a esta senhora que, se há uma circunstância a ser relevada no episódio, é a da tolerância: afinal, ali estava um imigrante, com visto permanente, integrado à comunidade acadêmica. Mas a “doutora”, tanto no physique du rôle como na, digamos, “psique” du rôle, prefere imitar, de forma suburbana, a delinqüência mental do Michael Moore de Tiros em Columbine. Só faltou ela acusar o Jorjibúxi...

Alô, Ali Kamel, who let the dogs out?

Noto que o coleguinha Evaristo Costa também não ajudou. Reparem: o estudante ouvido por telefone, Francisco Müller, chama a atenção para a excepcionalidade do episódio e diz que se sente seguro. Mas Costa não se conforma. Quase dá uma bronca no rapaz: “Bom, seguro, provavelmente, ninguém se sente depois que vê um massacre desse”. E oferece uma chave para a glossolalia de Sandra: “Passa a ser uma questão cultural também”. O quê? Os americanos, mesmo quando são coreanos, se matam por “tradição cultural”, é isso? Quando eles pretendem exercer o seu estoque antropológico, saem massacrando pessoas?

Ainda bem que a gente é brasileiro, né?, livre, portanto, daquele horror. Temos muito a ensinar aos EUA sobre a índole pacífica dos nossos quadrúpedes.

Alô, Ali Kamel: who let the dogs out?

Eu sinto muita vergonha de pertencer, de algum modo, à mesma comunidade a que pertencem certos inteliquituais. Penso sempre em tomar outro banho. Mas sei que não adianta. No Brasil, morrem assassinadas, por ano, 50 mil pessoas, 36 mil das quais por arma de fogo. E, com efeito, comprar um revólver, dentro da lei, no Brasil, é uma dificuldade. Mas, como se sabe, pode ser adquirido em qualquer esquina. Leiam o trecho que copio de um relatório da ONU que, notem bem, quer a extinção das armas de fogo:

“No contexto internacional, analisando os dados correspondentes a 57 países, para os quais contamos com informações sobre o tema, o Brasil, com uma taxa de 21,7 óbitos por armas de fogo em 100.000 habitantes, ocupa o segundo lugar, logo depois da Venezuela. Com esse índice o Brasil encontra-se bem distante, inclusive, de outros países onde impera uma ampla circulação de armas de fogo, como os EUA, que ostenta uma taxa de 10,3 mortes em 100.000 habitantes: menos da metade do Brasil. E bem mais distante ainda de países com conflitos armados, como Israel que, apesar do conflito com os palestinos, apresenta uma taxa de óbitos por armas de fogo oito vezes inferior à brasileira. Nossa taxa fica muito longe das de países como Cuba ou Irlanda (que beirando uma vítima de armas de fogo em cada 100.000 habitantes, resulta 21 vezes menor que a taxa brasileira). E muito, mas muito mais longe ainda das de Hong Kong, Coréia ou Japão, que com uma taxa de aproximadamente 0,1 mortes por armas de fogo em 100.000 habitantes, ostentam uma taxa 217 vezes menor que a brasileira!” (íntegra aqui).

Mas e daí? Doutora Sandra não quer saber disso, não. O negócio dela não é analisar a tragédia ocorrida na Universidade da Virgínia. Sobre isso, ela não tem nada a dizer. Ela está lá para ser juíza do capitalismo e enfiar o dedo na cara dos americanos: “Vocês são os culpados pelos seus mortos”.

Alô, Ali Kamel! Who let the dogs out?
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O Pato Sentado
Olavo de Carvalho (midiasemmascara.com.br)

Resumo: Crimes como os do jovem sul-coreano Cho Seung-Hui são o produto acabado de um longo e meticuloso esforço de engenharia social, o mesmo esforço que leva esquerdistas hipócritas e despreparados a fazer comentários absurdos sobre o episódio na mídia brasileira.


Vocês conhecem a expressão americana Sitting Duck ? É o pato sentado, o alvo mais fácil até mesmo para o atirador inepto. As escolas da Virginia estão repletas de patos sentados, porque uma lei demagógica, maliciosa e, a rigor, criminosa, proíbe o porte de arma aos professores e funcionários em serviço nessas entidades e até aos pais de alunos que por ali transitem.

Qualquer maluco que deseje iniciar uma carnificina sabe qual é o lugar mais seguro onde montar o espetáculo. Se apontasse uma arma para um caixa do WalMart, para um garçom de restaurante ou para um vendedor de cachorro quente numa praça de Richmond, levaria chumbo de dez fregueses ao mesmo tempo.

Mas para que o sujeito há de correr esse risco, se logo na esquina há uma multidão de trouxas desarmados, entregues à sanha dos assassinos por legisladores iluminados? O massacre de anteontem foi na Virginia Tech, mas podia ter sido em qualquer outra instituição de ensino do “Old Dominion”.

Mais ou menos um ano atrás, a Assembléia Geral da Virginia vetou uma emenda legal que, voltando atrás no desarmamentismo insano, devolvia aos professores, funcionários e alunos devidamente qualificados o seu antigo direito de portar armas no local de trabalho e estudo.

Na ocasião, o representante da Virginia Tech, Larry Hinckler, disse em entrevista ao jornal Roanoke Times (tão fanaticamente desarmamentista quanto a Folha e o Globo) que estava muito feliz com a derrota da emenda: “Tenho a certeza de que a comunidade universitária está agradecida à Assembléia, porque sua decisão ajudará os pais, estudantes, professores e visitante a sentir-se seguros no nosso campus.”

O resultado aí está.

As escolas têm sido há décadas um dos instrumentos principais de que se servem os agentes do globalismo para dissolver o tradicional espírito americano de altiva independência e implantar uma nova cultura em que o cidadão se torna cada vez mais indefeso, mais boboca, mais dependente da proteção estatal.

Até os anos 60, os EUA tinham as melhores escolas do mundo, e nenhum ministério da Educação. Desde a criação do ministério e da adoção dos “parâmetros curriculares” politicamente corretos ditados pela ONU, não só a qualidade da educação caiu formidavelmente, mas a delinqüência infanto-juvenil cresceu na mesma proporção.

Leiam, a respeito, The Deliberate Dumbing Down of America , de Charlotte Thomson Iserbit (Ravenna, Ohio, Conscience Press , 2001).

As provas que a autora aí apresenta são tantas, que a conclusão se segue inevitavelmente: crimes como os do jovem sul-coreano Cho Seung-Hui são o produto acabado de um longo e meticuloso esforço de engenharia social.

Muita gente por aqui reclama que os burocratas esquerdistas que dominam o sistema sistema oficial de ensino estão empenhados numa guerra cultural contra os EUA, destruindo a educação e a moral para em seguida atribuir os resultados medonhos de suas próprias ações à “lógica do sistema”.

Na mídia de todos os países do mundo há sempre uma multidão de papagaios prontos para repetir esse chavão de propaganda. Na infalível Rede Globo , incumbiu-se disso uma psicóloga da PUC, Sandra Dias, segundo a qual o morticínio foi “um ato heróico” por voltar-se contra “o consumismo americano”.

Também não faltaram na mídia brasileira as ponderações de sempre sobre a “cultura americana da violência” – as quais, vindas de um país do Hemisfério Sul que é recordista mundial de assassinatos, equivalem moralmente e geograficamente a cuspir para cima.

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