Tuesday, January 06, 2009

HUDNA: A SUPREMA DISSIMULAÇÃO

Heitor De Paola
02/06/2003


Ao se referir ao Road Map to Peace, a atual panacéia pacifista para o conflito entre o Estado de Israel e os grupos terroristas palestinos, nossa mídia mascarada tem evitado usar o termo hudna, o lado palestino da pantomima. Que vem a ser hudna? É uma palavra Árabe para designar aquilo que qualquer general, desde a Antigüidade, conhece e que todo adversário preparado não aceita e aproveita para atacar. Mas como foi um termo utilizado pelo Profeta Maomé adquire uma espécie de aura respeitosa que aumenta o despistamento.

Geralmente é traduzido, na imprensa ocidental, como trégua de duração temporária pré-determinada – nos jornais em Inglês truce - para entabular negociações visando à paz. Mas esta tradução deixa de lado o significado religioso, histórico e mesmo o sentido atual dado ao termo pelos chefes das quadrilhas de guerrilheiros e terroristas.

O Profeta Maomé, então exilado em Medina, era constantemente ameaçado pelos membros de sua tribo Coraixita que não reconheciam sua liderança espiritual nem aceitavam seu monoteísmo, e que controlavam Meca, a cidade mais sagrada para os Árabes. Após várias escaramuças, no ano de 628, ofereceu-lhes paz, prometendo a segurança de suas caravanas em troca da permissão de realizar os ritos de peregrinação anual à Caaba (1). Os Coraixitas responderam que um ano de paz deveria preceder o acordo. Maomé declarou então uma trégua – que denominou hudna - de 10 anos, conhecida como acordo de Hodaibiah. Para consolar seus guerreiros o Profeta atacou e saqueou os judeus Khaibar em sua colônia a nordeste de Medina: noventa e três foram chacinados e os demais, para sobreviver, entregaram suas propriedades e metade de suas futuras colheitas.

Durante os dois anos seguintes, Maomé reforçou seu exército e – como mestre do despistamento que era - usou a desculpa de uma infração menor qualquer cometida pelos Coraixitas para lançar um ataque devastador, com 10.000 homens, e retomou Meca.

Este o verdadeiro significado de hudna: acenar falsamente com uma trégua que não serve para o fim expresso – preparar a paz – mas para o fim secreto de descansar, reforçar e ampliar suas forças quando a situação é desesperadora e a derrota está próxima.

Historicamente este tem sido sempre o sentido dado pelas forças Árabes em luta: acumular forças para o próximo round. Não é mais do que uma trapaça, “veneno com cobertura de mel”, como disse há pouco Gideon Meir, Vice-Ministro do Exterior de Israel.


O PAPEL DA HUDNA NO ATUAL CONFLITO

Numa entrevista na TV Palestina, Abd Al-Malek, Membro Árabe do Knesset (Parlamento de Israel) – é, lá no “território ocupado pelos sionistas” tem disto! – ao responder a uma afirmativa de um expectador de que “nosso problema com Israel não é um problema de fronteira, mas de existência...”, respondeu: “É, nós exageramos quando falamos de ‘paz’ .... quando o que nós realmente queremos dizer é hudna”. E aqui é que vem o “pulo do gato” que quem entende Árabe já percebeu há muito. Quando as autoridades palestinas falam em seu idioma para seu próprio povo, mas não nas entrevistas em Inglês em fóruns internacionais, eles usam hudna e deixam claro que não há nenhuma paz à vista mas apenas um cessar-fogo temporário que, além da finalidade tradicional já exposta, tem outra: a de iludir a tal “comunidade internacional” – até mesmo alguns israelenses como os do movimento ”Paz Agora” - de que os Palestinos querem a verdadeira paz. Mas que fazer se os “ocupantes sionistas” traiçoeiramente os atacam? E nisto os grupos terroristas estão de pleno acordo com a própria “Autoridade Palestina”.

Todos os acordos assinados por eles são pura farsa em Inglês e conseguem enganar direitinho aos trouxas que neles acreditam, com direito até a Prêmio Nobel da Paz. Assim foi em 1994, quando Yasser Arafat explicou, em Árabe, para os palestinos que os acordos de Oslo eram uma hudna no caminho para Jerusalém. Depois, em 2000, seguindo o próprio Profeta, seu mestre de despistamento, usando como pretexto a visita de Ariel Sharon à Esplanada das Mesquitas, criou a tal da "pequena infração inimiga" quebrando a hudna e se lançando à nova guerra, conhecida como Intifada de Al Aqsa.

Principalmente nas mensagens educacionais para os jovens e nos livros textos editados ainda neste último mês, Israel é visto como uma potência colonizadora que roubou a terra do povo Palestino e expulsou os residentes – portanto Israel não tem direito de existir. O acordo de Hodaibiah é sempre mencionado como modelo para todo e qualquer ato de cessar-fogo assinado pelas autoridades, compreendidos como simplesmente parte de um processo estratégico final: a libertação da Palestina e a expulsão dos Judeus para o mar. Estes acordos são sempre assinados quando o balanço de força do momento está desfavorável às suas hostes, como agora que o Presidente Bush, que já mostrou que não está para brincadeiras – ver Afeganistão e Iraque - não acreditou na anunciada trégua e exigiu o desmantelamento do Hamas.

ALGUNS EXEMPLOS DA “SINCERIDADE” PALESTINA – EM ÁRABE, EVIDENTEMENTE

Ministro do Abastecimento da Autoridade Palestina (AP), Abd El-Aziz Shahian: “Oslo é apenas o primeiro passo na destruição de Israel, não um acordo permanente”.

Pregador Dr Ahmed Yousuf Abu Halbiah, da AP: “A Nação Palestina é a vanguarda de Allah contra os Judeus, até a ressurreição dos mortos (...) até que o destino de Allah seja cumprido”.

Othman Abu Arbiah, Assessor Político e Educacional de Arafat: ”O Estado Palestino com capital em Al Quds (Jerusalém, em Árabe) é apenas o primeiro estágio (...) na destruição dos colonizadores sionistas”.

Sheik Yousuf Abi Snina, pregador da Mesquita Al Aqsa: “A terra Palestina é terra Waqf que pertence aos fiéis do Islam desde o início dos tempos e ninguém tem o direito de (...) fazer concessões ou de abandona-la. (...) São traidores e criminosos que merecem o Inferno todos os que aceitam a existência de Israel, que inclui ceder Haifa, Lod, Nazareth e Ashkelon”. No mesmo sermão concede a Arafat um Selo de Aprovação Shariático (Lei Islâmica) para estabelecer uma hudna!.

Salim Alwadia Abu Salem, Supervisor para Assuntos Políticos da AP: “Quando nós pegamos em armas em 1965 e teve início a moderna revolução Palestina, nós tínhamos um único objetivo, que não mudou e não mudará nunca: a libertação da Palestina (da ocupação sionista)”.


Os milhares de exemplos são todos a repetição ad nauseam, da mesma cantilena.


CONCLUSÕES

As mensagens de paz das lideranças israelenses e palestinas aos seus respectivos povos são exatamente o oposto uma da outra (2).

Os líderes israelenses estão dizendo: o acordo permanente será doloroso, mas devemos aceita-lo porque ele marcará o fim do conflito.

Os líderes palestinos, por sua vez, dizem: o acordo permanente será doloroso, mas devemos aceita-lo porque não significa o fim do conflito, mas é apenas uma fase do mesmo.



Dá para acreditar em Paz, com ou sem Road Map?


(1) Para mais detalhes históricos, ver meus artigos
Fatos sobre o Islam
Islam: a conexão nazista

(2) http://www.pmw.org.il/report-31.html

Monday, January 05, 2009

A MIDIA, GAZA E ISRAEL

Luis Milman

Desde o início da ofensiva de Israel contra o Hamas, na Faixa de Gaza, no último sábado, dia 27 de dezembro, a mídia ocidental vem relatando as operações israelenses com base em pressupostos flagrantemente aparvalhados. Coincidentemente, estes pressupostos são os mesmos que pautaram as primeiras manifestações oficiais de condenação moderada lançadas contra Israel, por governos de nações importantes, logo no primeiro dia ofensiva, quando pouca ou quase nenhuma informação sobre a real dimensão das operações israelenses eram conhecidas”.

As manifestações da França, Rússia, Japão e China, exortavam Israel a interromper suas ações em Gaza. Ao invés de condenarem os ataques do Hamas, que iniciaram ainda em novembro e quebraram o cessar-fogo, a retórica destes países partia de duas premissas equivocadas: Israel estava respondendo aos ataques de forma desproporcional e, por isso, elevando o número de vítimas civis. Assim, a linguagem protocolar criava o mantra da desproporcionalidade, adotado também pelo Secretário Geral da ONU, o senhor Ban Ki-moon, na última segunda-feira, dia 29.

Ki-moon convocou a imprensa mundial para expressar seu repúdio ao uso da “força excessiva” por parte de Israel em seus ataques à Faixa de Gaza. O secretário-geral da ONU foi mais longe: ele apelou “às partes” para que interrompessem as hostilidades e reiniciassem negociações para um novo cessar-fogo. O coro foi reforçado pelo primeiro-ministro inglês Gordon Brown, também no dia 29. “Estou horrorizado (ênfase aqui) com a violência dos bombardeios”, disse. “Reiteramos nosso apelo a Israel e ao Hamas (ênfase aqui) para que declarem o imediato cessar-fogo e previnam a perda de mais vidas inocentes. Não há uma solução militar para esta situação. É preciso redobrar os esforços internacionais para assegurar que tanto Israel quanto a Palestina tenham terra, direitos e segurança para viverem em paz”, finalizou Brown. Ao mesmo tempo, seguiram-se manifestações de repúdio previsivelmente mais radicais, vindas de países muçulmanos e grupos extremistas, como o Hezbollah, que passaram a percorrer o planeta: massacre, genocídio, holocausto, crimes de guerra, crimes contra a humanidade. Enfim, surradas acusações disputavam espaço na mídia internacional com cenas de passeatas e aglomerações de rua pipocando na Europa e no mundo islâmico, em protesto contra a nova “barbárie” cometida por Israel.

Enquanto isto, a quantidade de vítimas dos bombardeios parecia dar a impressão de amparar a fórmula da desproporcionalidade: já passam de 150 mortos, muitos deles civis, já ultrapassam os duzentos, entre eles mulheres e crianças agora são mais de 300, entre os quais inúmeros inocentes. Agora, quando escrevo (terça-feira, 30 de dezembro), os mortos chegavam a 360. Horrível. A mídia apropriou-se do mantra protocolar, tomando-o como axioma para sua cobertura. E, por mídia, não estou nomeando nenhuma abstração. Refiro-me à CNN, à BBC, à Sky News, à France 24, para não mencionar a Al-Jazirah em Inglês e os diários New York Times, The Guardian e Le Figaro, que podem ser todos acessados on-line.

Também não estou me referindo aos analistas de prontidão, sempre rápidos no gatilho quando se trata de comparar o “desproporcional” confronto entre a potência militar israelense e a pobre capacidade de resistência dos palestinos. Restrinjo-me ao que se chama de “noticiário”, aquele texto informativo que, recomenda-se, deve ser feito com imparcialidade e um mínimo de cautela e caldo de galinha. Pois é nele que constato a desproposital incursão, em nome do imediatismo, no domínio da estupidez e da má fé.

Ora, o que se espera de um noticiário é que ele informe e não desinforme ou deforme os fatos. E quais são os fatos? Um: no primeiro dia da ofensiva, Israel apenas reiterou publicamente uma decisão que vinha sendo anunciada desde o final do frágil cessar-fogo de seis meses, mediado pelos egípcios, que entrara em vigor em junho último e se encerrara em 19 de dezembro.

Por que frágil? Porque o Hamas, há oito anos, vinha despejando diariamente seus foguetes contra Israel. Os ataques diários haviam matado nove pessoas, ferido outras tantas, danificado prédios e vinham configurando uma situação de permanente insegurança nas cidades que se encontram num raio de 20 quilometro da fronteira com Gaza.

Durante oito anos, Israel tentou tratar do problema de modo restrito: incursões rápidas de comandos no norte de Gaza para destruir bases de lançamentos de foguetes, bloqueio marítimo para evitar a entrada de armamento enviado pelo Irã e pela Síria ao Hamas e Jihad Islâmica bloqueio terrestre, para impedir a infiltração de terroristas suicidas nas grandes cidades israelenses cortes esporádicos no suprimento de energia elétrica para a Faixa de Gaza (70% desta energia é fornecida por Israel até hoje) com a finalidade de retardar a fabricação dos tais foguetes “caseiros” (na verdade, são foguetes produzidos em fábricas erguidas em meio a bairros densamente povoados da Cidade de Gaza, Dayir al Balah, Khan Yunis e Rafah).

De qualquer modo, findo o cessar-fogo - e diante das saraivadas diárias dos foguetes contra o sul de Israel -, o governo israelense anunciou que terminaria definitivamente com os ataques que ameaçavam seus cidadãos. Esta decisão foi, inclusive, comunicada, no dia 23 de dezembro, pela ministra do exterior israelense, Tzipi Livni, no Cairo, após um encontro com o presidente Hosni Mubarak. Livni, ainda no Cairo, não deixou dúvidas: Israel desencadearia a operação militar necessária para destruir a capacidade do Hamas de atingir Israel.

Nos últimos dez anos, o Hamas construiu, com o apoio logístico e financeiro do Hesbollah, da Irmandade Muçulmana (baseada no Egito), da Síria e, sobretudo do Irã, uma estrutura policial e militar na Faixa de Gaza, a tal ponto organizada, que lhe permitiu, no primeiro semestre de 2007, dizimar completamente as forças do Fatah (o braço armado da Autoridade Palestina) que ainda restavam no território palestino. Com isso, ele consolidou suas instalações militares, estocagem de armas e munição, seus campos de treinamento e suas bases de ataque contra Israel em toda a Faixa de Gaza. Hoje, o Hamas (que é sunita) conta com 15 mil homens no seu “exército regular”, e ainda com cinco mil membros armados da milícia xiita Jihad Islâmica. Esse pequeno exército dispõe, além de armamento pessoal pesado, de mísseis antiaéreos, mísseis antitanques, mísseis de médio alcance do tipo Katiusha e minas espalhadas por toda a fronteira com Israel.

Tudo isto é do conhecimento dos chefes de governo que emitiram o mantra protocolar da desproporcionalidade. Os senhores Gordon Brown e Nicholas Sarkozy sabem disto, certamente. Mas a mídia faz de conta que não sabe.

Ora, o panorama é bem nítido: Israel desencadeou a ofensiva para defender a integridade de seus habitantes, ameaçados constantemente pelo movimento fundamentalista militarmente organizado que controla toda a Faixa de Gaza desde junho de 2007. Mais ainda, o Hamas e seus associados menores, como a Jihad Islâmica e outros grupelhos, não representam a Autoridade Nacional Palestina (AP). Eles são terroristas, não aceitam a existência do Estado de Israel e estão comprometidos explicitamente com a sua extinção total.

Como então podem os líderes da Inglaterra e da França, ou o Secretário-geral da ONU, apelarem para que “as partes” retornem a um cessar fogo. Que partes? Israel, um estado nacional soberano e membro da ONU, por um lado, e o Hamas, um movimento terrorista que usurpou à força, da Autoridade Palestina, o controle sobre a Faixa de Gaza, por outro? Se a China não conversa sequer com o Dalai Lama, líder político e espiritual do Tibet ocupado (exilado, obviamente), por que Israel deve dialogar com o Hamas? Pelo que se sabe, o Dalai Lama defende apenas uma autonomia para o Tibet e jamais pregou a extinção da China. Por que Israel deveria “dialogar” com um movimento que objetiva abertamente a sua destruição? Ou por que o senhor Ban Ki-moon não apela para que a Espanha dialogue com o ETA, a Colômbia dialogue com as FARC, a Turquia dialogue com o PKK curdo, que quer criar um estado independente no Curdistão? Ou para que os Estados Unidos da América deixem o Afeganistão e dialoguem com o Talibã? Ou para que os senhores muçulmanos da guerra que governam o Sudão interrompam imediatamente a carnificina que já matou 300 mil cristãos e animistas e deslocou quase três milhões de refugiados para a zona de Darfour? Onde estão as passeatas na Europa contra esse massacre? Ou os protestos contra a tirania assassina de Ruanda? Onde estão os apelos para o diálogo entre as trezentas tribos que se entredevoram na muçulmana Somália?

O termo médio de comparação é suficiente, para quem possui mais de dois neurônios. Talvez, dois neurônios e meio. Por isso paro por aqui. Dois: Israel não está, como apregoa aos berros Hassan Nasrallah (em vídeo e de seu bunker em Beirute), cometendo um “genocídio” em Gaza. Ao contrário, é o líder do Hesbollah (Partido de Deus, em português), hoje quase um segundo exército dentro do Líbano, abastecido e financiado pelo Irã, que repete incansavelmente o objetivo político de seu partido: destruir Israel, sem deixar pedra sobre pedra. A voz de Nasrallah é amplificada nas ruas de todo mundo árabe e encontra acolhida em alguns analistas ocidentais procurados pela mídia para que “possamos (nós, o público) entender o trágico cenário da Faixa de Gaza”. Pensemos: se desejasse destruir a população de Gaza (isto é um despropósito descomunal naturalmente, mas só assim teríamos base para falarmos em genocídio) - e estou admitindo essa possibilidade apenas (ênfase aqui) para argumentar-, Israel o teria feito durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967, (lembram, ela ocorreu!), ou durante a Guerra do Yom Kypur, em 1973 (lembram, ela também ocorreu), ou durante a ocupação israelense de Gaza, que se estendeu de 1967 a 2000, ano em que unilateralmente (ou seja, sem qualquer pré-condição) Israel deixou a Faixa de Gaza na sua totalidade. O que é fato: a ofensiva israelense tem objetivos militares e políticos definidos. Os militares estão sendo plenamente atingidos, até agora. E com um baixíssimo custo em termos de vidas humanas. É isso mesmo. Baixíssimo! Afinal, depois de quatro dias de centenas de incursões aéreas e marítimas, depois de ter despejado sobre Gaza mais de 500 toneladas de explosivos, apenas, repito, apenas, 360 pessoas morreram! E destas, cerca de 60, segundo as informações do próprio Hamas e da ONU, são civis.

Ora, isto quer dizer que o restante fazia parte do exército terrorista, logo um alvo militar. A operação israelense impressiona, mas não pelas razões do senhor Nasrallah ou dos desavisados apedeutas de boa fé (admitamos), que usam a palavra “genocídio” sem saber o que ela significa. O conceito se aplica quando um governo deliberadamente promove o extermínio de povos ou populações inteiras, encontrem-se elas em seu próprio país ou em outros.

Os turcos foram genocidas com relação aos armênios os nazistas, com relação aos judeus os comunistas stalinistas com relação aos russos os maoístas com relação aos chineses os japoneses com relação aos chineses e, hoje, os sudaneses muçulmanos com relação aos sudaneses não muçulmanos.

Nem os cubanos castristas, que nos primeiros cinco anos após a revolução de 59, exterminaram 95 mil pessoas, praticaram um genocídio. Eles cometeram assassinatos em massa, uma ação sem dúvida abjeta e execrável, um crime contra a humanidade. Mas, não cometeram genocídio. E atentarmos para as diferenças ainda é fundamental.

Por que a operação israelense impressiona? Por duas constatações que saltam aos olhos. A primeira: a ofensiva está se processando na área mais densamente povoada do planeta (1,5 milhão de habitantes em 360 quilômetros quadrados) a segunda: o Hamas ergueu intencionalmente toda a sua infra-estrutura policial e militar nos centros urbanos, justamente os locais mais densamente povoados deste território já muito densamente povoado (a hipérbole é proposital).

Ora, se é para destruir alvos militares, é preciso atingi-los onde se encontram. E Israel está fazendo isto, de forma quase milimétrica, cirúrgica, mesmo correndo o risco, inevitável nesta situação, de atingir civis. Repito: e o faz de forma impressionante, pois as baixas civis, nesse contexto, são aquém de mínimas. Como a aviação e a marinha israelenses conseguem fazer isto? Empregando altíssima tecnologia, mísseis inteligentes e alvos previamente selecionados. Caso contrário, estaríamos diante de um massacre. E é necessário que se reafirme: não estamos sequer a milhões de milhas próximos disto. O Secretário-Geral da ONU, que jamais reuniu uma conferência de imprensa para falar sobre a situação no Sudão, deveria saber disto. Ele, desta forma, ficaria calado. Obviamente, eu não esperaria que o senhor Ki-moon aplaudisse a operação de Israel. O Secretário-geral da ONU deve, por princípio, lamentar todas as guerras. Mas ele deveria, também por obrigação, calar-se, porque esta é uma guerra legítima, sobretudo defensiva, com objetivos militares e políticos claros, de um país soberano contra um grupo terrorista que prega o seu aniquilamento e contra os governos que apóiam este grupo. Três: Falei que a guerra possui objetivos políticos claros. Ei-los: Israel quer expulsar o Irã da Faixa de Gaza. O Irã? Isso mesmo, o Irã. O Hamas e a Jihad Islâmica nada mais são do que uma extensão do governo de Teerã e de seu potencial bélico virtualmente no interior de Israel. E todos sabem o quê mais almejam os aiatolás iranianos: destruir o que eles chamam de entidade sionista. Assim, ao eliminar a capacidade do Hamas de atacar seu território, Israel, além de retomar o controle sobre sua segurança imediata, desfere também um golpe mortal nas pretensões iranianas de penetrar em sua fronteira sul. Com isso ainda pretende isolar política e militarmente o Irã, travestido de Hezbollah, na sua fronteira norte. Ao mesmo tempo, forja uma situação mais favorável para negociar com a Síria, também enfraquecida com a derrota do Hamas, um tratado de paz entre os dois paises. Esta é uma meta de médio prazo. Por essa razão o senhor Nasrallah esbraveja contra o Egito de Mubarak e a Autoridade Palestina, de Machmud Abas, chamando-os de traidores do Islã. Nasrallah sabe que, sem o Hamas e a Jihad Islâmica em Gaza, o Hezbollah, ou seja, o Irã, se enfraquece, enquanto o Egito, a Autoridade Palestina e a Jordânia se fortalecem e, pior (para o Irã), Israel recupera a posição geopolítica decisiva para sua existência na região.

A ofensiva ainda torna explicita a disposição de Israel de não tolerar que o iranianos consigam obter armamento nuclear. Ou seja, Israel está preparando o terreno para uma intervenção direta no Irã.

Como Barak Obama assume a presidência dos Estados Unidos em janeiro, Israel envia uma mensagem inequívoca para Washington: não há diálogo com o Hamas, nem com Teerã. Os Estados Unidos devem se preparar para apoiar irrestritamente a ação militar direta de Israel contra os iranianos. E essa ação não deve tardar, pelo que se depreende do palco desenhado por Jerusalém. Quer dizer: trata-se de uma ação já planejada e montada pela inteligência militar israelense, que deve ser deflagrada em breve. Pergunta oportuna: o que é “breve”? Resposta: Israel certamente sabe. E, creio agora, Barak Obama também. No fim das contas, Israel não está fazendo mais do que colocar seu destino em suas próprias mãos. E isto ele sempre fez, sob o preço de simplesmente deixar de existir. Dúvidas? Consultem a História.

Finalizando: e a mídia com relação a esse quadro? Nada informa, nada analisa, nada investiga. Pelo contrário, submete-se ao superficialismo, mistifica, embrulha-se toda no mantra da desproporcionalidade e mergulha de cabeça no noticiarismo demagógico e pretensamente humanitário. É um crime contra a lucidez e a razão. Mas, que diabos, isso lá importa?


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Luis Milman é Jornalista e doutor em Filosofia, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, preocupado e abismado com as reações de governos e da mídia internacional a partir da ação desenvolvida por Israel na Faixa de Gaza, território controlado pela organização terrorista Hamas, desde o ano passado, escreve o artigo a seguir para esclarecer aspectos importantes da questão, que não são considerados.