[Estamos] numa guerra entre os que defendem a liberdade de pensamento, os direitos humanos, os mais altos valores da Humanidade e aqueles que vivem num mundo em que não há lugar para a razão.
ALI KAMEL
Os atentados na Espanha, na última semana, já foram analisados de vários pontos de vista. Mas alguns aspectos foram deixados de fora, outros não foram abordados com a necessária profundidade. Principalmente no que concerne ao terrorismo como um todo.
Por mais antipático que possa parecer, é necessário dizer que nas manifestações “pela Paz” e de repúdio ao terrorismo, há um quê de hipocrisia. Hipocrisia do tipo “pimenta nos olhos dos outros é colírio”. A Europa parece ter descoberto a palavra terrorismo, que nunca é empregada por lá para se referir às constantes chacinas de civis que ocorrem, há anos, em Israel. Segundo levantamento feito pelo Prof Luiz Nazário, da USP e da UFMG, só nos anos 2000, 2001 e 2002 contaram-se 381 mortos e 1.627 feridos em atentados dos mais diversos tipos por várias facções terroristas palestinas. Várias destas organizações, como a OLP, são ostensivamente financiadas por capitais europeus e ONGs “humanitárias” americanas.
Incrível mesmo - mais do que hipócrita, selvagem - foi a lista publicada dos atentados no mundo desde 11 de setembro pelo site Terra: não consta nenhum, NENHUM, em Israel! Um protesto encaminhado pelo Dr Miguel Gus, de Porto Alegre, obteve a cínica resposta que “a fonte da informação era a Reuters e para essa Agência o conflito entre Israel e Palestinos não havia sido incluído pois ele arrasta-se no tempo”. “Não se intimidou o editor ao emitir essa desculpa, mesmo quando na lista constavam atentados na Chechênia, Colômbia, Paquistão, Índia e Caxemira, locais onde o conflito não pode ser classificado como pontual”. [Palavras do autor do protesto].
Mas as notícias de lá sempre dão conta de homem-bomba palestino que “suicida-se” em atentado em Israel. E sempre existe a desculpa de que tais suicidas – jamais chamados do que realmente são: assassinos terroristas – pertencem a um povo oprimido pelo Estado Judeu. É impressionante, senão revoltante, ver como saem as notícias na mídia européia e latino-americana e, com menor intensidade, na americana. Os atentados palestinos são sempre noticiados em páginas centrais com poucas e pequenas fotos. Quando as Forças de Defesa de Israel reagem, as manchetes são na primeira página e as palavras utilizadas são bem mais fortes: Exército de Israel ataca líder palestino E MATA VÁRIOS CIVÍS INCLUSIVE CRIANÇAS INOCENTES. Uma foto de criança palestina sempre cai bem, principalmente se estiver ferida ou jogando uma pedrinha num enorme blindado israelense.
Mas os atentados na Espanha não, foram noticiados com ampla repercussão e as palavras são as mais fortes possíveis. Será que é porque lá em Israel só morrem judeus? E agora o terror chegou dentro das fronteiras européias? Poder-se-ia acrescentar também os citados atentados em países não europeus, que estes lêem no jornal matinal enquanto acabam seu café e ao tomarem suas conduções já esqueceram, planejando seu dia.
Não quero deixar de lado dois aspectos psicológicos importantes. A repetitividade e a proximidade. É verdade que os ataques a Israel são tão constantes e tão distantes que somente aqueles que têm parentes ou amigos lá – ou que entendem a extensão e a profundidade da crise internacional - ainda se preocupam. Toda tragédia que se repete, cansa e acaba virando rotina. Veja-se a violência urbana: acaba-se falando dela como um fato natural da vida. E é claro que um atentado na Europa, mais próximo, choca mais. Mas não posso descartar a imensa hipocrisia que está por trás destas atitudes, porque estão envolvidas outras forças que as motivam. E uma delas é, sem dúvida, a exacerbação do anti-semitismo disfarçado de anti-sionismo. E também porque Israel é aliado dos EEUU, esta potência invejada, temida e odiada!
Mas além de hipocrisia, existe uma enorme estupidez envolvida.
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“Isto é parte do acerto de uma antiga conta com a Espanha Cruzada”.
Este é um trecho do pronunciamento das Brigadas Abu Hafis al-Masri, ao assumir a autoria dos atentados. Há muita discussão ainda sobre a verdadeira autoria mas os analistas de maior peso estão inclinados a uma versão mista: seriam frutos de um planejamento bem coordenado entre a al-Qaeda e a ETA (Euzkadi ta Askatasuna, Pátria Basca e Liberdade). Não tenho elementos para chegar a uma conclusão, mas não creio que isto seja importante. O fato é que, direta ou indiretamente responsável, a al-Qaeda mandou seu recado – e funcionou.
A idéia de que o “acerto de contas” tem a ver com fatos ocorridos há mil anos não passa, a meu ver, de uma excelente dissimulação. E é facilmente justificável. Já em fevereiro de 1998, quando a al-Qaeda passou a existir com plena força, Osama bin-Laden e vários outros líderes lançaram uma fatwa com o expressivo título: GUERRA SANTA MUNDIAL CONTRA OS JUDEUS E OS CRUZADOS – DECLARAÇÃO DA FRENTE ISLÂMICA MUNDIAL. A menção do pronunciamento atual sobre a Espanha Cruzada não é aleatória. Já nesta fatwa falava-se que “desde que Allah criou a Península Arábica, cercada de oceanos, esta só havia sido invadida brutalmente pelos exércitos cruzados que, como gafanhotos exterminaram suas colheitas”. Mas “há sete anos (depois da Primeira Guerra do Golfo) está ocupada pelos EEUU, humilhando seu povo, aterrorizando seus vizinhos e usando suas base para ataca-los”.
Temos aqui uma mentira, embutida numa outra mentira para dissimular a verdade, uma True Lie ou melhor ainda, uma deception. A interpretação dos ataques como uma retaliação e chantagem pela Espanha ter apoiado a invasão do Iraque pelos EEUU é correta. Mas exploram-se fatos ocorridos há mil anos como forma de insuflar as massas islâmicas contra os “cruzados” atuais, despertar a culpa do ocidente, já devidamente preparada pelo antiamericanismo e pelo anti-sionismo reinantes e desviar a atenção dos reais motivos.
Não é à toa que os líderes esquerdistas de todo mundo apressaram-se a difundir esta versão, a começar pelo ditador cubano ao novo Presidente de Governo Espanhol, Zapatero. A mídia e os leitores “engoliram” direitinho, tão doutrinados estão pelo antiamericanismo e pelo anti-sionismo obsessivos. E era esta exatamente a intenção. No entanto a menção às Cruzadas serve como pretexto de que estamos enfrentando uma guerra exclusivamente contra o Islã e não contra uma ação conjunta do moderno “fundamentalismo” Islâmico e suas fontes ideológicas e de financiamento esquerdistas, contra a civilização ocidental e seu representante mais oriental, Israel.
Assim, declara-se o verdadeiro objetivo – manipular as eleições espanholas contra os EEUU – confunde-se a opinião pública com a menção a uma guerra santa, insufla-se o natural fanatismo religioso entre os muçulmanos – disto se encarregam muito bem as mesquitas e madrassas – escondendo-se a extensão e a profundidade dos próprios objetivos: atacar o Ocidente e a civilização baseada na tradição judaico-cristã. Para todos que acreditam piamente que a queda do muro de Berlim representou o fim do comunismo, isto soa como uma teoria conspiratória paranóica que vê comunistas até de baixo da cama.
Relembro uma velha piada: o paciente que dizia ao psiquiatra que havia um jacaré debaixo da cama e o doutor interpretava como fantasia paranóica. Quando o paciente faltou três dias o psiquiatra ligou, e a esposa disse: “o jacaré comeu ele, doutor”.
Esquecendo momentaneamente a palavra comunismo, o que o socialismo tem em comum com o Islã? Um profundo ódio ao indivíduo que nada é, só valendo o coletivo. A civilização ocidental, fundada num tripé – judaísmo, cristianismo e filosofia grega – é a que ressalta o valor do indivíduo acima das massas coletivas e por isto jamais será perdoada pelos coletivistas de todos os matizes, que se aliam para atacá-la.
O extremismo islâmico corânico – a jihad corânica – havia arrefecido há umas centenas de anos, para renascer a toda força no século passado, dando a impressão de que é a mesma, mas não é! Os atuais dirigentes da jihad não dão a mínima para o Alcorão, nada têm de religiosos, mas sabem – por viverem lá – como é fácil insuflar seus conterrâneos com trechos do Livro de Allah. Da mesma forma, a solidariedade com o “povo palestino” não passa de cortina de fumaça para a destruição de Israel – e depois, do resto do ocidente, inicialmente a Europa, presa fácil por ser onde impera a maior hipocrisia e impostura.
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A suprema estupidez é não perceber que Israel não é atacado porque “invadiu” a Palestina. Porém, como ao terminar este artigo, chegou-me às mãos um muito mais brilhante, de Pilar Rahola, jornalista catalã, “La Rebelión de los Canários”, deixo com ela a palavra (em tradução livre que será divulgado em breve, na íntegra, pelo MSM):
“Israel, tal como os judeus, não é odiado pelo que faz, mas pelo que é. [...] por ser um oásis democrático e ocidental num mar de ditaduras. [ ...] por sustentar valores de humanidade e liberdade, rodeado por tiranias sangrentas. Não são os defeitos de Israel – que são abundantes – o alvo do ódio terroristas mas suas virtudes.”
“A solidariedade com os Palestinos é talvez uma das maiores hipocrisias do século”. A Europa, que colonizou o mundo árabe, que oprime suas próprias minorias muçulmanas e que cala complacentemente frente às tiranias que assolam o mundo muçulmano, se descobre como campeã dos direitos humanos precisamente no tema palestino [...] Longe de ser solidária, a Europa trata outra vez de apaziguar assassinos. Os que pagam são outra vez os judeus”.
Eu não teria palavras melhores. A covardia abjeta do eleitorado espanhol só encontra paralelo na vergonhosa rendição de Munich. Como Churchill disse a Chamberlain, no seu retorno triunfal do encontro com Hitler: “Deram-lhe o poder de escolher entre o opróbrio e a guerra. Você escolheu o opróbrio, e terá a guerra!”
retirado de http://www.heitordepaola.com
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