Thursday, December 08, 2011
Aplausos para ONGs
por Peter Hof em 15 de fevereiro de 2007
Resumo: Qual seria a reação do Viva Rio se em vez do menino João Hélio a vítima fosse um "di menor", armado, que tivesse sido morto a tiros ao invadir uma residência?
© 2007 MidiaSemMascara.org
Qualquer pessoa de bom senso, que leia quotidianamente os jornais, certamente já terá observado a relação, para se dizer no mínimo estranha, entre ONGs como a Viva Rio, do Rio de Janeiro, e a Sou da Paz, de São Paulo, e as forças da marginalidade que atormentam a vida do cidadão de bem. Essas instituições vivem às custas de gordas contribuições de governos estrangeiros - a Viva Rio recebe, de acordo com o Embaixador Inglês em Brasília, 2,5 milhões de reais por ano, fora as doações de fundações estrangeiras como a Soros, Ford e Rockfeller.
A coisa chega a tal ponto que por ocasião do Referendo sobre o Comércio de Armas, de outubro de 2005, a Justiça Eleitoral proibiu que essas duas ONGs se envolvessem nas campanhas, que antecederam o referendo, devido às suas relações com entidades de outros países. E a coisa não fica por aí: as arcas do Tesouro Nacional despejam, sem nenhum tipo de controle, imensas somas de dinheiro para essas ONGs. Sempre é bom lembrar que essa dinheirama tem origem na carga tributária de quase 40% que a população brasileira, exaurida, carrega nos ombros.
Para exemplificar o que está escrito acima pincei quatro exemplos recentes:
Caso 1: Os leitores deste Mídia Sem Máscara, que também me honram com sua leitura, devem estar lembrados de um artigo intitulado " E agora, senhor Rubem César Fernandes?" em que eu manifestava minha indignação pela apaixonada defesa que o senhor Fernandes, dirigente da ONG Viva Rio, fazia do dirigente comunitário William de Oliveira. Oliveira, dirigente comunitário na favela da Rocinha, Rio de Janeiro, e protegé do senhor Fernandes, estava atolado em acusações de ligações espúrias com o tráfico que domina aquela favela.
Indignado com a "injusta perseguição" que a polícia vinha fazendo a um inocente dirigente comunitário, o sociólogo (Deus deu cangurus para a Austrália e sociólogos para o Brasil) Rubem César saiu-se com esta cândida explicação sobre as mentiras do dirigente comunitário à polícia, publicada no jornal O Globo de 5/3/05: "Mentira não chega a ser crime". E a turma da patifaria resolveu levar a sério e ampliar o âmbito da declaração do doutor Fernandes: acrescentaram que também não chega a ser crime receber dinheiro para votar matérias de interesse do governo no caso do mensalão que, por extensão, também não chega a ser crime receber propina em negociatas com ambulâncias. Não chega a ser crime receber veículos Land-Rover de fornecedores do governo. E comprar dossiês falsos sobre candidatos da oposição? Crime? Nem pensar, quando muito é um escorregão de bem intencionados aloprados. Como se viu, "bons exemplos" são facilmente absorvidos por uma significativa parcela da população...
Para azar do sociólogo e do líder comunitário, o jornal O Dia - que pelo visto não concordava com o final que queriam dar à história - publicou uma série de cinco arrasadoras reportagens mostrando que acobertar roubo de armas do Exército e entregar aos traficantes rádios de comunicação comprados pela associação comunitária (muito provavelmente com dinheiro doado pelo Viva Rio), podiam ser considerados "apenas" como "pequenos desvios de conduta" só para o pessoal do Viva Rio, o que resultou na prisão de William de Oliveira.
Caso 2: Ano passado, admitam ou não as "autoridades competentes", o crime organizado efetuou uma verdadeira ação de guerrilha urbana em São Paulo. Um grande número de policiais civis, PMs e até bombeiros foram cruelmente chacinados no decorrer de poucas horas. Alguém viu ou leu alguma declaração do Sou da Paz condenando a chacina de agentes da lei? Se alguém leu por favor me escreva. Agora, bastou a polícia começar a responder ao ataque e matar alguns bandidos para que todo mundo caísse de pau nas "desumanidades" cometidas pela polícia. Não se trata aqui de negar a existência de exageros por parte de alguns maus policiais, ações essas que devem ser severamente punidas. O que não se pode aceitar é a forma como as coisas foram colocadas por uma parte da imprensa. Só faltaram dizer que um grupo de pobres desafortunados, vítimas de uma sociedade cruel e excludente, foi barbaramente trucidado por infames policiais.
Caso três: Em 8/10/2006 uma viúva de 67 anos, moradora no bairro do Flamengo, Rio, cansada de ser ameaçada por ladrões, deu um tiro em um vagabundo que tentava assaltá-la. O mundo quase veio abaixo. Um integrante do Viva Rio declarou que ela merecia apodrecer na cadeia; o senhor Antonio Rangel Bandeira, outro "especialista" do Viva Rio ouvido pelo jornal O Globo - para esse jornal, "especialista" é qualquer pessoa de uma ONG contrária ao direito de autodefesa - criticou o fato de um juiz ter soltado a viúva. Suas palavras publicadas no jornal da Família Marinho: - "A gente fica com pena, mas leis devem ser cumpridas". Pablo Dreyfus, também do sempre presente Viva Rio, declarou que o caso abre um precedente perigoso quando se solta alguém que infringe a lei, embora o tenha feito em defesa da própria vida. Para o senhor Dreyfus e o senhor Bandeira a única lei por eles aceita é da total submissão dos cidadãos de bem aos desmandos da bandidagem.
Caso quatro: O Rio de Janeiro e o Brasil assistiram horrorizados a um ato de barbárie que nem os carrascos nazistas, os mais insensíveis dos seres humanos, seriam capazes de perpetrar: uma criança de seis anos foi arrastada por mais de sete quilômetros por um carro dirigido por marginais. Um policial que chegou ao local contou que chorou ao ver o estado do corpo da criança, completamente dilacerado e não conseguiu transmitir pelo rádio a mensagem. A revolta atingiu níveis nunca vistos neste desgraçado país. O jornal O Globo recebeu em 12 horas mais de 2.500 e-mails de cidadãos revoltados contra um ato que ultrapassa todos os limites até então imaginados da selvageria. Entre essas milhares de manifestações, pincei uma do leitor Jader
Neiva Mello, publicada em 10/2/2007:
"Até agora não vi, ouvi nem li notícia que algum órgão de direitos humanos tenha ido prestar solidariedade à família do menino João. Porém já li sobre a preocupação da ONG Viva Rio para com os bandidos. É sempre assim: vamos defender os facínoras".
Tem toda a razão o referido leitor. Vejam o que declarou o amigo do marginal William de Oliveira, o sociólogo (lembram-se da história da Austrália e dos cangurus?) e dirigente do Viva Rio sobre o caso, em entrevista ao Globo (sempre ele...):
"É uma coisa sem nome, totalmente insuportável. As pessoas de meu trabalho comentaram o assunto durante todo o dia. A violência chegou ao limite da insensibilidade. O perigo é a sociedade entrar nesse clima de violência, ser dragada (sic) por esse sentimento e querer fazer justiça com as próprias mãos".
Perceberam qual a maior preocupação do sociólogo Fernandes? É de a sociedade chegar ao limite da paciência e da capacidade de suportar os golpes que leva diariamente, de ver corrupção e desvio do dinheiro que deveria ser investido em sua segurança parar nos bolsos de mensaleiros e sanguessugas e resolver fazer justiça com as próprias mãos! Para os membros do Viva Rio o que importa é que, acima de tudo, animais que executam mulheres nas ruas, que incendeiam famílias inteiras dentro de carros, que praticam tiro ao alvo em policiais e extorquem e aterrorizam toda uma sociedade, tenham seus direitos humanos respeitados. Será que para variar um pouco, e talvez conseguir mais verbas de fundações e governos estrangeiros, o Viva Rio não pode mudar a cantilena e se preocupar também com os direitos humanos das vítimas? Eles podem começar dando assistência à família de Rônei Cândido Resende, 32 anos, escrivão da Polícia Federal, que em 11/2/2007, ao ser descoberto que era policial foi executado com 9 tiros de fuzil, seu corpo foi colocado na mala de seu próprio carro que foi incendiado pelos perpetrantes, um grupo de vítimas da exclusão social.
Não lembro de ter visto durante toda minha vida uma manifestação de solidariedade e indignação como agora no caso do menino João Hélio. Reunidos na mesma dor e na mesma revolta lá estavam o Governo do Estado, o Governo da Cidade, A Cúria Metropolitana, a Sociedade de Pediatria do Rio de Janeiro, comerciantes como a Confeitaria Colombo que distribuiu fitas pretas aos clientes e pilotos de asa-delta. O site Orkut reuniu 22.255 membros protestando contra o fato. Até mesmo uma escola de samba pretende fazer uma homenagem a João Hélio no desfile de carnaval. Tudo isto não foi suficiente para fazer com que um membro sequer do Viva Rio juntasse sua voz à de milhares de pessoas em uma das raras e contundentes manifestações de uma sociedade entorpecida pela violência que a tem afligido por décadas.
Deixo aos leitores uma pergunta: Qual o ilustre leitor (a) acredita que seria a reação do Viva Rio se em vez do menino João Hélio a vítima fosse um "di menor", armado, que tivesse sido morto a tiros ao invadir uma residência?
O leitor que teve a paciência de ler este texto até aqui deve estar se perguntando a razão para o título desse artigo: Viva quem? Creio que a melhor reposta está contida na carta do leitor Rodrigo Dardeau Vieira, publicada no Globo de 12/10/2006, comentando o caso da idosa que atirou no bandido:
"Quer dizer então que a turma do Viva Rio revogou o direito de legítima defesa, quer a prisão daquela senhora que reagiu a um assalto e a considera uma ameaça à sociedade? Diante disso, proponho a imediata mudança de nome da referida ONG para VIVA BANDIDO! Fica bem mais de acordo".
Ah, a velha, mas sempre bela sabedoria popular!
E agora, senhor Rubem César Fernandes?
Escrito por Peter Hof | 31 Março 2005
Arquivo
Em artigo publicado aqui no MÍDIA SEM MÁSCARA de 09/03/05 eu citei uma entrevista dada pelo senhor Rubem César Fernandes, diretor do Movimento Viva Rio, à jornalista Taís Mendes, publicada em O Globo de 05/03/05, pág. 21. Na referida matéria ele fazia uma apaixonada defesa de William de Oliveira, presidente de uma organização de moradores da favela da Rocinha e acusado de ligações com o tráfico. Para defender seu protégé, o senhor Fernandes comete verdadeiros absurdos e afrontas ao bom-senso ao declarar que o dirigente comunitário, que em vez de chamar as autoridades joga, ou manda jogar no mato fuzis que haviam sido furtados das Forças Armadas, é coerente com o William que conheci. E que: Mentira não chega a ser crime.
Tudo indica que até para o jornal da família Marinho, que publica num mesmo dia anúncios de prostituição e reportagens contra o lenocínio, o destempero verbal do senhor Fernandes, fiel escudeiro do jornal O Globo na campanha do desarmamento, foi longe demais.
A impressão que ficou é que para consertar as coisas, a direção do jornal escalou um jornalista respeitado: Zuenir Ventura, que na quarta-feira, 09/03/05, publicou em sua coluna semanal de 1/3 de página um artigo intitulado Versão Polêmica, onde procurou livrar a cara do dirigente da comunidade da Rocinha. Interessante que um jornalista tarimbado como Zuenir cometa um erro básico e mortal para quem pretende bem informar seus leitores: o de dar voz somente a um lado interessado, “por acaso”, o do senhor William de Oliveira. Zuenir baseia seu artigo em uma entrevista que o dirigente comunitário deu a uma outra pessoa (Xico Vargas) em um site chamado Nominimo. Entretanto nada o impediria, em nome de um jornalismo isento, que Zuenir telefonasse para o secretário de Justiça e ouvisse sua versão dos fatos, de vez que as acusações eram graves e incluíam o próprio titular daquela pasta.
Aproveitando a oportunidade única que lhe era oferecida, o dirigente comunitário posou de vítima do sistema e de uma armação da Polícia. Segundo ele, o doutor Marcelo Itagiba, secretário de Segurança Pública do estado do Rio de Janeiro não queria que o Ministro Edson Vidigal do STJ, que tinha uma visita planejada à favela da Rocinha, se encontrasse ‘com um dirigente de nada, um preto favelado’ (Atenção: isto é transcrição literal do que foi dito na matéria escrita por Zuenir). William reiterou que tudo o que querem é arruinar sua ilibada reputação e Zuenir encerra a matéria com as seguintes palavras: “Há informações que William diz só fornecer à Justiça. A ela caberá decidir se houve de fato armação política.”
A matéria de Zuenir teve pronta resposta do doutor Itagiba, publicada na seção de cartas de O Globo de 10/03/05 que negou categoricamente a frase racista a ele atribuída, e mostrou fatos e ações da PM e da Polícia Civil na verdadeira Zona de Guerra que é a favela da Rocinha.
Por uma dessas ironias da vida, no domingo seguinte, a revista Veja de 16/03/05, trouxe uma extensa reportagem intitulada O Fio da navalha, com transcrições de conversas do líder comunitário onde fica exposto todo o envolvimento de William de Oliveira com o crime organizado. Ao contrário das unilaterais afirmações de Rubem César Fernandes e Zuenir Ventura, a matéria de mais de três páginas da Veja traz testemunhos de pessoas com vasto conhecimento dos problemas das favelas: a antropóloga Alba Zaluar, que há 25 anos estuda a violência nas favelas e o domínio do tráfico, e do deputado Carlos Minc, que comprovam as espúrias ligações entre o tráfico e um substancial número de lideranças comunitárias em favelas.
O capítulo seguinte da emocionante novela aconteceu no dia 17/03/05 quando o Secretário de Segurança Pública e o senhor Rubem César Fernandes foram solicitados pelo Globo a expressar suas opiniões sobre O Caso Rocinha. Não vale a pena aqui fazer uma análise profunda do artigo do doutor Itagiba, uma vez que este se concentra em demonstrar com números a ação da polícia em comunidades como a Rocinha e outras. Do que ele escreveu discordo apenas quando diz que nos últimos dois anos mais de 30 mil armas foram retiradas das mãos de criminosos. A razão de minha discordância é a matéria publicada em O Globo que informa que a polícia apreendeu, em 2004, 880 armas (18/01/05, pág. 10). Se a afirmação do doutor Itagiba é correta, no ano de 2003 foram apreendidas 29.120 armas, o que me parece um pouco exagerado, se comparado com 2004.
O senhor Rubem César Fernandes em sua matéria (quem sabe, devido a ajuda de um ghost-writer) foi bem mais moderado do que quando faz declarações aos jornais. Até aí nada demais: ele está na boa companhia do Presidente da República que quando fala de improviso faz inveja aos melhores autores de besteirol. Ele abriu a matéria, intitulada Insurreição pela cidadania, relatando que em 2004 o Movimento Viva Rio desenvolveu 1.134 projetos em favelas e periferias pobres. Segue dizendo que estas ações foram desenvolvidas com 1.380 instituições parceiras. Ele só “esqueceu” de dizer, ou de contestar as afirmações contidas em Veja, que daquele total apenas 73 (5,3%) ações foram em parceria com entidades de moradores. Que explicação teria o dirigente do Viva Rio para o fato? Teria sido também muito interessante se o senhor Fernandes, um dos paladinos da nefanda Campanha do Desarmamento, nos dissesse quantas atividades para o recolhimento de armas, do mesmo tipo que o Movimento Viva Rio leva a cabo quase que em caráter permanente na sua própria sede, em igrejas e em outros locais da cidade, foram também desenvolvidas nas comunidades onde o Viva Rio atua, e quantas armas foram entregues pelos moradores dessas comunidades.
Outro ponto interessante no artigo do senhor Fernandes é a seguinte frase: Não fazemos contato direto com bandidos, nem com a polícia mineira. Está aí uma coisa que não entendi: contato direto o pessoal do Movimento Viva Rio não faz, isto pressup&oti lde;e que eles fazem contatos indiretos? Talvez seja este o papel do senhor William de Oliveira. Fazer a parte dura do trabalho para que o pessoal do Movimento Viva Rio continue recebendo generosas doações tanto do Brasil como do exterior, sem a necessidade de sujar as mãos nem correr riscos. Mais adiante o senhor Fernandes escreve: Preservamos nossa segurança (alguém diria “integridade”) à custa do risco de nossos parceiros. Como alguém pode defender alguém a quem está usando como bucha de canhão? Ainda segundo o senhor Fernandes: os integrantes do Viva Rio receberam a graça de não ter nenhuma só pessoa nossa ferida ou morta em conflito . Enquanto isso 350 líderes comunitários foram assassinados no município do Rio de Janeiro entre 1992 e 2001 (O Globo 20/03/05, pág.17). Como o senhor Ruben César Fernandes está tão orgulhoso das estatísticas das ações do Viva Rio pode acrescentar mais uma: com a segurança e a integridade dos membros do Viva Rio devidamente assegurada, a cada 32 ações comunitárias de sua ONG morre Um dirigente comunitário! Preservar sua própria segurança e integridade às custas do risco de parceiros, senhor Fernandes, tem um nome: COVARDIA.
A pá de cal sobre a pacotilha montada por O Globo, com a participação do senhor Rubem César Fernandes e do jornalista Zuenir Ventura, foi dada pela série de reportagens do jornal O Dia, que se iniciou em 24/03/05, página 3 e se prolongou pelos quatro dias seguintes. Na primeira das reportagens, em uma matéria de página inteira com direito a transcrições das conversas de William com o traficante Bem-Te-Vi e outros marginais da favela da Rocinha, a história inteira é contada. Além de celulares, o amigo querido do dirigente do Movimento Viva Rio, também usava rádiotransmissores para alertar seus parceiros do crime sobre a chegada de policiais. Estes rádios era comprados pela associação de moradores e repassados aos traficantes. Será que alguém tem uma idéia de quem fornecia dinheiro para a associação dos moradores comprar tais equipamentos?
No caso dos três fuzis roubados em 27/07/04 do Forte Copacabana, e comprados por Bem-Te-Vi por 24 mil reais, William Oliveira orientou o traficante a se desfazer das armas, jogando-os na mata junto à vizinha favela do morro do Vidigal. William fora informado de que o Exército estava preparando uma operação na favela para recuperar as armas.
Para julgamento dos leitores transcrevo a seguir o que disse William de Oliveira ao traficante: “Se liga, eu menti pros caras do Exército, disse que as armas não estavam aqui. Agora, se aparecer as peças (fuzis), até eu vou ser preso” (O Dia, 24/03/05, pág. 3). Interessante que o próprio William reconheceu que a mentira poderia levá-lo para a cadeia. Já o senhor Rubem César Fernandes, com a inocência das almas puras, afirmou sobre o caso: “Mentir não é crime”.
Na sexta-feira, dia 25/03/05 o mesmo repórter, Sérgio Ramalho, publica em O Dia, pág.12 outra extensa reportagem onde transcreve mais fitas mostrando toda extensão do envolvimento do líder comunitário e darling do senhor Rubem César com os traficantes da favela da Rocinha. Chega a ser repulsivo o trecho onde William manda um funcionário da União Pró-Melhoramentos ligar para o comandante do batalhão da PM e denunciar policiais militares que faziam uma blitz no morro (O Dia, 27/03/05, pág. 18). O crime desses policiais? Serem honestos e estarem atrapalhando os negócios dos traficantes.
As fitas com as gravações das conversas entre o líder comunitário e os traficantes foram enviadas pela 16ª DP (Barra da Tijuca) ao Instituto de Criminalística Carlos Eboli a fim de serem periciadas. Esta providência é importante, não só do ponto de vista da justiça como também para que os leitores de O Globo, que leram na coluna do jornalista Zuenir Ventura, que “ele (William de Oliveira) afirma que gravações foram adulteradas para comprometê-lo”, saibam que a verdade é bem diferente daquilo que o líder comunitário afirma a seus amigos e defensores.
Depois disso tudo o que fez o jornal da família Marinho, tão rápido em mandar ou aceitar que um de seus mais conceituados articulistas fizesse a defesa de um marginal? Nada! Sobre o assunto o jornal O Globo mergulhou no mais profundo silêncio.
Infelizmente para William de Oliveira, presidente da União Pró-Melhoramentos da Rocinha, a Justiça tem um entendimento a respeito de “coerência” e “mentir não é crime” diferente daquele do seu protetor, senhor Rubem César Fernandes. Em 17/03/05 William teve sua prisão preventiva decretada novamente. Os agentes da Polinter, encarregados de executar a prisão, foram recebidos na favela com tiros e bombas de fabricação artesanal. Ao que tudo indica o dirigente comunitário, ao desaparecer, perdeu uma oportunidade única de ser coerente com o que sobre ele havia escrito o jornalista Zuenir Ventura: usar aquela oportunidade para fornecer à Justiça as tais informações que diz possuir.
Na madrugada de 29/3/05, quando tentava evadir-se da favela da Rocinha no banco traseiro de um carro, William foi reconhecido por policiais e preso. Ironicamente, William de Oliveira vestia uma camiseta com a inscrição “A Gente Faz Paz”, camiseta esta distribuída pelo “Movimento Viva Rio”. Quem leu as matérias de Veja e a devastadora série de reportagens sobre o assunto publicadas pelo jornal O Dia, há de achar pouco ortodoxa a maneira que o líder comunitário tem de fazer paz.
Ao manifestar-se sobre o assunto O Globo foi bastante moderado, talvez porque seus leitores já houvessem assistido na véspera as declarações dadas por William ao Jornal Nacional. Ao contrário de O Dia, o jornal da família Marinho não explicou a seus leitores que a inscrição “A Gente Faz Paz”, estampada na camiseta de William, e claramente visível na foto do dirigente comunitário na página 20 de sua edição de 30/03/05, era patrocinada por sua ONG parceira, o Movimento Viva Rio.
Em “defesa” de O Globo é preciso dizer-se: desta vez, escaldados com a ri dícula reportagem de 05/03/05, a direção do jornal não correu a ouvir a opinião do seu interlocutor favorito, o senhor Rubem César Fernandes, O Coerente.