Somos hipócritas? Será que realmente é a mesma coisa?
Em algum ponto essa autocrítica exagerada chega a ser quase patológica (MOS) – “É tudo nossa culpa, e se agíssemos melhor então tudo se resolveria“. Enquanto isso, ao mesmo tempo em que nos julgam(os) pelos mais altos padrões, pensam(os) nos terroristas como moralmente incapazes, que sequer conseguem entender tais questões, e muito menos ser capazes de alguma autocrítica. No fim os que usam dessa tática imoral acabam incapazes de fazer a distinção entre vítimas e terroristas, terminando sempre por culpar a vítima.
3 eventos recentes que demonstram a Equivalência Moral em sua formas mais extremas, e que levaram a ’intelequitualidade’ ocidental à loucura moral.
30 de setembro de 2000 – O início da segunda intifada
As políticas israelenses na faixa de gaza e na cisjordânia são vistas como “terrorismo de Estado“. A partir daí não só os “palestinos“ são vistos como terroristas, mas também os israelenses – com a diferença de que os atos desses árabes ainda são vistos como uma reação natural (e justa) de pessoas indefesas – “essa é a sua única arma“ – contra uma força muito mais poderosa. “Que escolha eles têm?“ “Se eu estivesse naquela situação eu também poderia fazer o mesmo“.
Um grande exemplo são os comentários da Cherie Blair. A idéia de que os israelenses merecem o que estão recebendo é a mesma que impede a reação e o repúdio contra o terrorismo suicida, o que explica o motivo de os britânicos terem se surpreendido tanto com os ataques em Londres em 7/7... eles passaram a acreditar que isso só acontecia por um bom motivo (LCE), sem nenhuma idéia do universo “moral“ que motiva tal violência.
Agosto/setembro de 2001 – Conferência Mundial Contra o Racismo (WCAR)
Durante dez dias, representantes de ONGs do mundo todo se encontraram em Durban, na África do Sul, para discutir sobre o racismo e como lutar contra ele durante o próximo século.
Já que o racismo é uma das mais endêmicas características das sociedades, com o preconceito fundado muitas vezes somente em pequenas diferenças físicas, como a cor da pele, e tão difundido em culturas ao redor do mundo, esperava-se que o tema fosse aprofundado e que houvesse muita introspecção por parte dos participantes. Ao invés disso, a conferência, como tantas outras relacionadas com a ONU, gastou todo o seu tempo atacando Israel (um país que respeita e busca integrar todas as suas minorias raciais e religiosas), enquanto não usou sequer um segundo do seu tempo com o mundo árabe, onde o tráfico de escravos e o massacre de negros e cristãos ainda é comum em lugares como a Mauritânia, Oriente Médio, Sudão e outros. E além disso, ao invés de reconhecer que o tráfico de escravos e massacres nas sociedades islâmicas são uma das mais absurdas manifestações de racismo no mundo atual, o congresso preferiu condenar o tráfico de escravos por parte dos europeus, o mesmo que teve seu fim há mais de um século e um meio.
11 de setembro de 2001: As Torres Gêmeas e o ataque ao Pentágono
Os adeptos da equivalência moral interpretam os ataques terroristas de 11 de setembro como uma reação contra a política externa “imperialista“ dos EUA. Pra resumir, é o famoso “os ’estadunidenses’ mereceram“.
Logo em seguida aos ataques contra o WTC, Chomsky, um dos maiores – provavelmente o maior – fabricante das narrativas de equivalência moral na atualidade, descreveu a “Guerra contra o terror“ liderada pelos EUA como contraditória, já que esse país era culpado de “terrorismo de Estado“ por décadas, e porque para ele o terrorismo era a arma do forte, e não do fraco (Veja aqui e aqui).
De acordo com essa narrativa, a guerra liderada pelos EUA (Reino Unido e OTAN) contra o Iraque do genocida Sadan e contra o Afeganistão dos Talibans é pior do que o os ataques terroristas ou que a ditadura iraquiana ou a afegã, e o presidente George Bush e o primeiro ministro Tony Blair são criminosos de guerra iguais ou até piores que Bin Laden.
Já com os “rebeldes“ os críticos da guerra no Iraque tendem a ser especialmente compreensivos, inclusive descrevendo-os como “revolucionários” – como fez o cineasta Michael Moore.
Para compreender a dinâmica e as consequências da equivalência moral, deve-se ser capaz de identificar e entender suas características principais:
EVEN-HANDEDNESS: De acordo com o professor Richard Landes, isso se refere à tendência predominante na mídia ocidental de adotar uma linha “objetiva e imparcial“ nas coberturas de conlitos entre sociedades democráticas e abertas contra seus inimigos – nesse caso os islâmicos. As grandes corporações midíaticas, tais como a BBC, Reuters (ver aqui também), Associated Press, CNN, Boston Globe e outros, se recusam a classificar ataques deliberados contra populações civis como terrorismo, já que, de acordo com a linha editorial da BBC, a palavra “terrorismo“ pode dificultar a compreensão dos fatos em vez de ajudá-los (“the word ‘terrorist’ can be a barrier rather than an aid to understanding.”). Então, de acordo com os padrões jornalísticos ocidentais de objetividade, para “não dificultar a compreensão“ dos espectadores, homens-bomba suicidas que atacam civis israelenses são descritos como “militantes“ ou “ativistas“, e grupos iraquianos (tais como sunitas e xiitas) que matam uns aos outros passam a ser chamados de “insurgentes“ ou “rebeldes“. Apesar disso, os ataques de 7/7 em Londres foram classificados como terroristas pela BBC. Afinal qual é a diferença entre os ataques que ocorrem frequentemente em Israel e esse em Londres?
RETÓRICA INFLAMADA: Os erros/falhas das democracias ocidentais são invariavelmente descritos de maneira exagerada. Muitas vezes a retórica adquire uma virulência que deveria deixar inquieta qualquer pessoa sensata:
- Quando Guantanamo é comparada aos gulags soviéticos pela Anistia Internacional (a mesma Anistia que não fala sobre os abusos da ditadura castrista de Cuba ou das teocráticas islâmicas)
- Quando o presidente Bush é descrito pelo prefeito de Londres como “a maior ameaçã para a vida na Terra.”
- Quando o ganhador do prêmio Nobel José Saramago compara Israel com a Alemanha Nazista, e os “territórios ocupados“ com Auschwitz.
ANALOGIAS SIMPLISTAS: Nesse caso a tendência é pegar um caso negativo de comportamento por parte do Ocidente, e compará-lo com o pior tipo de atrocidade perpetrado por outros. No mundo da equivalência moral, por exemplo, as políticas israelenses para com os “palestinos“ são comparadas ao comportamento dos nazistas, Bush e os neo-conservadores são vistos como “extremistas“ e tão fundamentalistas quanto os terroristas islâmicos, e os abusos em Abu Ghraib (onde os métodos de tortura eram basicamente jogar o Corão na privada e fazer mulheres impuras/menstruadas tocarem nos terroristas) são equivalentes aos métodos de tortura brutal no regime de Sadan Hussein.
A caricatura abaixo foi publicada em um popular jornal britânico e dá um grande exemplo de como analogias simplistas são frequentemente usadas:
É realmente tentador traçar os paralelos entre eles e se sentir moralmente superior a ambos (“terrorismo é errado, mas os EUA fazem igual“). Mas se você não é capaz de ver as diferenças... o que você acha da cultura que te deixa tão livre para, com esse narcisismo moral, atacar de forma tão violenta o seu próprio governo? Quanto tempo você duraria fazendo o mesmo na cultura que produz o companheiro do lado esquerdo?
AUTOFLAGELAÇÃO MORAL: A equivalência moral geralmente borra a linha do limite entre a autocrítica útil – essencial e vital para qualquer sociedade civil saudável –, e uma autoflagelação moral que maximiza “nossas falhas“ e minimiza a “deles“, mesmo quando eles representam um perigo muito maior e, como no caso da Jihad, uma ameaça existencial. Se os pensadores da equivalência moral, por exemplo, aplicassem ao mundo árabe os mesmos critérios morais absurdamente elevados que aplicam às próprias sociedades (muros de defesa se tornam apartheid e detenções de suspeitos se tornam racismo), seus “radares morais“ disparariam instantâneamente pela violência e violações de direitos humanos (assasinatos em nome da honra, execuções sumárias de “colaboradores“, sharia entre outros). Por outro lado, se nós nos déssemos uma fração da indulgência moral que damos aos “oprimidos“ lá fora, não teríamos crime nenhum.
Porque é importante fornecer sólidos contra-argumentos para a equivalência moral
Em uma entrevista para a BBC em maio de 2004, Noam Chomsky declarou que o termo “equivalência moral“ é usado como uma arma nas mãos daqueles que querem suprimir o direito de criticar livremente: “The term moral equivalence is an interesting one, it was invented I think by Jeanne Kirkpatrick as a method of trying to prevent criticism of foreign policy and state decisions. It is a meaningless notion, there is no moral equivalence whatsoever.”
Relevando a incoerência da passagem acima (John Kennedy foi quem inventou o termo pra denunciar o fenômeno), a linha final parece incompreensível: Não era exatamente isso o que Kirkpatrick quis dizer – que não havia equivalência moral entre os EUA e a União Soviética? Mas a mensagem geral está clara: ao nos recusarmos a aceitar as gritantes diferenças entre os erros do Ocidente – que apesar de realmente existirem, foram cometidos para defender os direitos humanos – com o comportamento de regimes totalitários, é como se impedíssemos qualquer forma de crítica... É como se rejeitar críticas absurdas e fora de tamanho fosse o mesmo que rejeitar toda e qualquer crítica.
Numa entrevista para o Der Spiegel, a maior revista da Alemanha, em junho de 2005, o cineasta Woody Allen falou sobre os eventos de 11 de setembro da seguinte maneira: “The history of the world is like: He kills me, I kill him, only with different cosmetics and different castings. So in 2001, some fanatics killed some Americans, and now some Americans are killing some Iraqis. And in my childhood, some Nazis killed Jews. And now, some Jewish people and some Palestinians are killing each other. Political questions, if you go back thousands of years, are ephemeral - not important.”
Allen, talvez sem querer, repetiu o que o professor Richard Landes chama de “dominating imperative”, que foi o argumento que os atenienses usaram para justificar o assassínio dos homens de Melos e a venda de suas mulheres e crianças como escravos.
Allen não usaria tal idéia para justificar esses horrores, afinal ele é muito civilizado...
Ele é tão autocrítico que ele não vai – ou não quer – ver a diferença entre nazistas matando judeus de um lado, e “palestinos“ e israelenses se matando de outro. Aparentemente ele não se dá conta de que a mudança rumo à sociedade civil, que tornou possível que alguém como esse Woody Allen fosse possível, veio de tentativas – imperfeitas, sim – para superar esse imperativo.
Ao amontoar tudo nesse cálculo político mal feito, ele fortalece as pessoas que querem massacrar homens e vender mulheres e crianças como escravos. Estão fazendo isso nesse exato momento no Sudão.
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The Persistence of Islamic Slavery - Human beings are still in bondage in Sudan and elsewhere in the Islamic world. More>
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